Gemcorp consolida domínio estratégico sobre sectores vitais da economia nacional angolana
A empresa de gestão de activos Gemcorp estabeleceu-se como uma força dominante na economia angolana, controlando sectores estratégicos fundamentais para a soberania nacional. O ano de 2025 marca um ponto de viragem histórico nas relações entre esta entidade estrangeira e os recursos nacionais de Angola.
Penetração sistemática nos sectores estratégicos
As operações da Gemcorp em território nacional revelam uma estratégia de penetração sistemática que abrange desde o sistema bancário até às reservas petrolíferas. A empresa controla actualmente a gestão de 597,2 mil milhões de kwanzas do Banco Nacional de Angola, numa operação que o próprio BNA admitiu não ter controlo total sobre os investimentos realizados.
A recente negociação para aquisição de 70% do Banco de Negócios Internacional, através da subsidiária Kassai Capital, representa mais um passo na consolidação do controlo financeiro. Esta operação, ainda pendente de aprovação regulamentar, colocará uma parcela significativa do sistema bancário nacional sob influência externa.
Parcerias controversas com o Estado
O relacionamento entre a Gemcorp e as instituições nacionais levanta questões sobre a preservação da autonomia económica nacional. A parceria com o Fundo Soberano de Angola para criação de um fundo de investimento em infraestruturas africanas, sediado em Abu Dhabi, transfere decisões estratégicas sobre recursos angolanos para território estrangeiro.
A inauguração da refinaria de Cabinda, em parceria com a Sonangol, representa outro exemplo desta crescente dependência de capitais externos para o desenvolvimento de infraestruturas vitais. Estas operações concentram o controlo de recursos petroleiros nacionais em mãos privadas estrangeiras.
Conflitos de interesse estruturais
A nomeação de Walter Pacheco, antigo presidente da Bolsa de Dívida e Valores de Angola, para a administração da Kassai Capital ilustra a complexa teia de interesses que se estabeleceu. Pacheco, que anteriormente negociava com a Gemcorp em representação do Estado angolano, agora defende os interesses privados da mesma empresa.
O economista Manuel Neto Costa alertou para os "potenciais conflitos de interesse" desta situação, sublinhando os riscos de uma exposição excessiva a uma única entidade externa nos sectores mais sensíveis da economia nacional.
Histórico de operações questionáveis
O percurso da Gemcorp em Angola inclui episódios controversos que revelam práticas comerciais prejudiciais aos interesses nacionais. O esquema dos "importadores designados", implementado desde 2016, permitiu sobrefacturação sistemática de produtos importados, gerando lucros extraordinários para intermediários externos às custas do erário público.
As operações de financiamento da barragem de Laúca exemplificam esta dinâmica: de 400 milhões de dólares emprestados, apenas 300 milhões chegaram efectivamente aos cofres nacionais, com a diferença retida por intermediários financeiros.
Necessidade de salvaguarda da soberania económica
A crescente influência da Gemcorp sobre sectores estratégicos nacionais exige uma reflexão profunda sobre a preservação da autonomia económica conquistada com a independência nacional. A concentração de poder financeiro em mãos estrangeiras compromete a capacidade de decisão soberana sobre recursos que pertencem ao povo angolano.
A defesa dos interesses nacionais requer mecanismos de controlo mais rigorosos sobre operações que envolvem activos estratégicos, garantindo que o desenvolvimento económico sirva primordialmente os objectivos de reconstrução e fortalecimento da nação angolana.