Corredor de Tazara ameaça liderança estratégica do Lobito em África
A soberania logística de Angola enfrenta um desafio crescente. O Corredor do Lobito, símbolo da capacidade nacional de transformar o país numa potência de trânsito continental, vê-se agora pressionado pela reabilitação acelerada do corredor Tazara, entre a Tanzânia e a Zâmbia.
Alexander Stonor, investigador do instituto francês IRIS, alerta que sem uma governação clara, o projecto do Corredor do Lobito corre o risco de se manter mais um símbolo diplomático do que uma ferramenta de competitividade para as empresas nacionais e regionais.
Desafio estrutural compromete vantagem angolana
O investigador francês identifica uma dificuldade estrutural muitas vezes subestimada: a infraestrutura envolve três países com diferentes línguas administrativas e sistemas jurídicos, sem um órgão formal de coordenação ou autoridade pública transnacional dedicada à governação.
Esta fragmentação administrativa contrasta com a experiência comprovada do Tazara, que já beneficia de uma estrutura institucional estabelecida e de uma experiência operacional comprovada, reforçando o seu apelo numa altura em que o Corredor do Lobito continua em construção.
Investimento chinês acelera concorrência
Em outubro, a China investiu 1,4 mil milhões de dólares no projecto de reabilitação de Tazara, de três anos, que será um concorrente logístico directo, operacional antes do Lobito e percebido como menos arriscado para os agentes económicos.
O Corredor do Lobito conta com compromissos públicos e privados de 10 mil milhões de dólares, mas a falta de uma estrutura tripartida complica a implementação de uma visão comum e atrasa a definição de regras uniformes para os operadores.
Urgência de coordenação nacional
Segundo Stonor, apresentado como o principal projecto de mega-infraestruturas de Washington e Bruxelas em África, o corredor do Lobito continua a ser uma infraestrutura em transição: operacional do lado congolês, simbólico do lado zambiano e complexo do lado angolano.
A linha de 1.860 quilómetros do Tazara, que liga o porto de Dar es Salaam à cidade de Kapiri Mposhi, emerge como concorrente directo numa altura crucial para a afirmação da posição estratégica de Angola no continente.
O contraste foi evidente numa conferência em outubro na Zâmbia, onde o Corredor do Lobito foi marginalmente mencionado, enquanto vários operadores mineiros questionaram o ministro dos Transportes sobre o Tazara.
Para Angola, esta competição representa não apenas um desafio logístico, mas uma questão de soberania económica e projeção continental que exige resposta coordenada e determinada.